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segunda-feira, 19 de julho de 2010

I João Cândido Hoje deixou a certeza que lembrar de João Cândido é falar de justiça, de soberania, de dignidade

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O I João Cândido hoje ocorreu na noite de 26 de junho de 2010 - sábado. Organizada pelo Grupo Afluentes e pelo Comitê Latino Americano, a atividade objetivou comemorar os 130 anos do nascimento de João Cândido Felisberto, o marinheiro negro que gravou o nome na história por sua bravura na defesa dos direitos humanos, numa época em que era simplesmente proibido se falar nisso, sobretudo pelos negros.


O evento contou com um público expressivo, com muitos representantes de vários segmentos do movimento social de Porto Alegre. A boa presença de público no comitê, em uma noite fria e úmida de sábado, comprova o grande significado da memória de João Cândido para a comunidade negra e para o movimento popular em geral.


A noite começou com a exposição do vídeo-clipe "João Cândido", da banda pernambucana Afonjah, com participação de Dona Zeelândia, filha de João Cândido. Em seguida, foi exibido o video-documentário "João Cândido - A luta pelos direitos humanos", realizado pelo Projeto Memória 2008 e dirigido pela cineasta mineira Tânia Quaresma.


O painel "A trajetória de João Cândido como inspiração para os atuais desafios da comunidade negra em busca da igualdade plena" teve lugar em seguida.


José Antônio dos Santos - historiador e doutorando em história - fez uma abordagem do contexto sócio-político da época da Revolta da Chibata, discorrendo sobre a dura realidade vivenciada pelos marinheiros e os desdobramentos do movimento ao longo do século XX. Falou da importância de entidades como a irmandade do rosário na defesa dos direitos dos negros no período pré e pós-abolição do trabalho escravizado no Brasil, ressaltando a contratação pela irmandade de uma banca de advogados, liderada por Evaristo de Moraes, para a defesa dos marinheiros perseguidos.


Lucia de Brito Pereira - historiadora, doutora em história e coordenadora da ONG Maria Mulher - iniciou falando a respeito da tradição da comunidade afro-brasileira de se organizar na defesa dos seus direitos. Destacou o papel fundamental que exerceram e exercem as mulheres negras na conquista dos direitos sociais ao longo da história. E afirmou que eventos como este são necessários para a reflexão sobre os rumos a serem tomados pelo movimento negro, no desafio de mudança das precárias condições vividas por grande parte da população negra, não só no Brasil, mas também em nível mundial.


Luís Alberto da Silva - advogado e então presidente da Sociedade Floresta Aurora - discorreu sobre a importância da figura de João Cândido na organização política da classe trabalhadora no século XX. Também fez ponderações sobre as possibilidades jurídicas e políticas para a conquista de reparação pecuniária pela família de João Cândido e seus companheiros, não prevista na Lei 11.756/2008, que confirmou a anistia política dada aos marinheiros insurgentes à época da Revolta da Chibata.


A seguir, manifestou-se o público presente, destacando-se as intervenções de Jorge Cidade, músico da banda Produto Nacional; Waldemar Pernambuco, liderança do Movimento Quilombista Contemporâneo e do Coletivo Almirante Negro; Tusilé Soares, do Movimento das Meninas Feministas; e de João Cândido Oliveira, sobrinho-neto de João Cândido.


Como janta, foi servido um suculento mocotó, prato da culinária afro-brasileira, cuidadosamente preparado por Jerônimo Barbosa.


Por fim, aconteceram as apresentações musicais:


O Coral do Cecune, com um trabalho pioneiro de canto coral junto à comunidade negra no Rio Grande do Sul, mostrou seu repertório de música africana e da diáspora africana nas Américas. A apresentação culminou com a versão original da música "O mestre-sala dos mares" (de João Bosco e Aldir Blanc), com participação especialíssima do Grupo Cambatuque.


O Grupo Cambatuque foi a próxima atração, com repertório composto por músicas próprias e clássicos do samba. A canção "Subindo a ladeira (A face)", de autoria de Alan Barcellos, conquistou o público.


Finalizando a noite, o Grupo Afluentes tocou ritmos negros. Destaque para a canção "Tributo a João Cândido".Jorge Cidade, no sax tenor, fez uma participação especial, apresentando dois temas instrumentais.


Além das entidades organizadoras, o evento contou com muitos apoiadores - morais e materiais.Agradecemos a todos os participantes, que atuaram na condição de parceiros e contribuíram com idéias para a realização da atividade. Ao público presente, pelo interesse e participação. A Antônio do Amaral, que cedeu reportagens históricas sobre a Revolta da Chibata e sobre a anistia incompleta de João Cândido. A Antônio Mattos, líder comunitário e pesquisador, que há muito vem empreendo ações em prol da manutenção da memória de João Cândido, pelo empréstimo do video-documentário exibido. A Ney Ortiz, do grupo Raízes da África, pela participação. A Antônia Marisa, pelos tecidos africanos. Ao Centro Cultural Peruano, pela ajuda na divulgação e realização do evento. A Gilmar Abimbadè, pelo material de audiovisual emprestado. À ONG Cidade, pelo empréstimo do projetor de vídeo. E a companheira Rosa Beltrame, pelo apoio na divulgação.


O evento foi documentado por Anderson do Amaral, Kyzzy Barcelos e Daniela Tolfo, em filmagens e fotos que aos poucos estão sendo disponibilizadas na internet. A Rádio "Red Por Ti América" fez a cobertura do evento, ao vivo, via internet.


O I João Cândido Hoje deixou a certeza que lembrar de João Cândido é falar de justiça, de soberania, de dignidade. É não ficar calados(as).


Páginas foram escritas, muitas outras restam pra preencher...


Em 22 de novembro de 2010 serão 100 anos da Revolta da Chibata.


Vídeo do Painel:



Links:

- Vídeo-clipe "João Cândido" - banda Afonjah


- Vídeo documentário "João Cândido - A luta pelos direitos humanos"


- Radio "Red Por Ti America"


- Vídeos de algumas Apresentações Culturais: Canal do Comitê



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